5 quadrinhos da Mythos para conhecer

texto por Hugo Matsubayashi e Leandro Aquino (revisado em 28/01/20)

No último ano (2019), o Anemia Cerebral teve a oportunidade de conhecer algumas publicações da Mythos Editora que estão fora do chamado mainstream (como as hqs de super-heróis da Marvel e da DC, os mangás de ação e luta, os gibis infantis extremamente populares, tais como Disney e Turma da Mônica, bem como os quadrinhos italianos da Bonelli, sobretudo Tex mensal, que ultrapassou a marca de 600 números atualmente). No entanto, embora os títulos que falaremos agora não gozem de tamanha popularidade, ainda assim demonstram um potencial enorme para agradar os leitores de quadrinhos (e não só eles, mas também os que leem literatura fantástica, terror, fantasia aos moldes de O Senhor dos Anéis, Crônicas de Gelo e Fogo, The Witcher, etc., como também os jogadores de RPG, fãs de ficção científica e até mesmo os fãs de rock e heavy metal. Sendo assim, apresentaremos a vocês esses títulos tão capazes de reunir em si tantas vertentes dentro da cultura pop:


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ELRIC – O trono de rubi (2017)

A edição brasileira estreia o selo Gold Edition da editora (voltado para quadrinhos europeus, em formato de luxo, com capa dura e miolo em couchê de alta gramatura). Este álbum em questão é uma compilação dos dois primeiros volumes lançados na França, pela Glénat Éditions: “O trono de rubi” (2013), estonteantemente desenhado por Didier Poli e Robin Recht, e “Stormbringer” (2014), no qual Recht retorna à arte, mas agora em parceria com Julien Telo; nos roteiros, por sua vez, Julien Blondel assina ambos, com colaboração de Jean-Luc Cano na segunda história.
Talvez o maior feito desta equipe criativa seja o mérito por ter concebido em imagens o que o autor da saga literária de Elric, Michael Moorcock, tivesse em mente desde o primeiro romance, “Elric de Melniboné”, em 1972.
O personagem Elric é, para muitos, um “anti-Conan”; não como um arqui-inimigo, mas como uma contrapartida ao modelo principal de protagonista de Espada e Feitiçaria: se, por um lado, Conan inicia sua jornada como ladrão até se tornar Rei da Aquilonia, Elric, por outro, nos é introduzido já como rei legítimo de Melniboné; do mesmo modo, o bárbaro sempre nos é descrito como um ídolo de bronze cujos músculos parecem enrijecidos como o aço; Elric, no entanto, é esguio, lânguido, de pele albina, motivo este que, ao contrário do cimério, em nada intimida seus antagonistas. Ao contrário, a pele do rei de Melniboné é vista como estigma e sinal de fraqueza, o que coloca em xeque sua capacidade para manter o trono. Assim, ambos os heróis oferecem diferentes gatilhos narrativos para suas sagas, quase como antíteses mútuas no que diz respeito às suas concepções.

Quanto ao enredo, Elric é o imperador albino dos melnibonianos, uma raça cruel e detentora de poderes sobre-humanos e mágicos. Apesar de ser o herdeiro legítimo do trono, ele é questionado quanto à sua capacidade de liderança, tendo seu rancoroso primo, Yyrkoon, como seu mais fervoroso opositor, o que levará a intrigas, armadilhas, mistério sobrenatural e até mesmo embates náuticos.
Inicialmente, Elric: o trono de rubi da Mythos Editora chama a atenção por seu portentoso formato europeu (de aproximadamente 31 x 23 cm), muito maior do que os formatos comuns do mainstream de quadrinhos brasileiros (formatinho, formato americano, magazine, mangá tanko, etc.) – mas este gibi não é grande gratuitamente: devido ao seu maior espaço de página, os artistas podem trabalhar com novas perspectivas, enquadramentos de cena e composições de grid e de sequência narrativa. Igualmente, seu conteúdo é de excelente alquimia entre política monárquica, fantasia, romance, mistério sobrenatural e violência, os quais, conjuntamente, asseguram enorme imersão na leitura.
Outro item de destaque é a narrativa que consegue unir a arte a textos relativamente extensos às vezes, os quais não só tornam o enredo mais aprofundado, mas também fazem o leitor percorrer com os olhos por todo o conjunto da página, uma a uma, até o término do volume.
Depois de termos lido essa obra da Mythos – aliás, temos um vídeo indicando Elric AQUI – interessamo-nos pelo romance de Michael Moorcock que resultou no álbum em questão e, por incrível que possa parecer, preferimos a adaptação em quadrinhos!

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ZUMBIS vs. ROBÔS (2017)

Cansado de Exterminador do Futuro? Matrix? Por acaso se cansou de ver a humanidade perecer chacinada por androides, robôs e toda sorte de tecnologias? Que tal ter as Inteligências Artificiais ao nosso lado numa proposta diferente para um mundo pós-apocalíptico? Em Zumbis vs. Robôs, as máquinas tentam salvar nosso planeta de uma infestação zumbi.
Comprei este quadrinho despretensiosamente (afinal, quando rola uma superpromoção, tem que aproveitar!) e foi uma grata surpresa. Contudo (e antes de tudo), saiba que, caso você seja um leitor que queira cada pergunta relativa ao enredo respondida, cada pormenor explicado, histórias com começo, meio e fim, alfa e ômega, primeiro, segundo, terceiro e o último apaga as luzes, enfim… É possível que este não seja o título mais adequado para você (vá assistir a primeira trilogia de Star Wars pela seiscentésima sexagésima sexta vez e recomendo também que leia Dragon Ball desde o volume 01, prossiga para a fasee, depois de devorar os 42 volumes, prossiga para a nova franquia Super. Veja todos os animes, filmes, reboots, retcons, torcendo para que Toryama explique a árvore genealógica dos sayajins. Por fim, parta para a Bíblia. Ali vai de Genesis ao Apocalipse. Nada tem mais começo, meio e fim do que ela, amém). Sendo assim, não espere saber origens das tecnologias ou da epidemia em Zumbis vs. Robôs. Como aconteceu o apocalipse zumbi? Quem foi o paciente zero? Duvido que a própria equipe criativa, Chris Ryall (roteiro) e Ashley Wood (arte), saiba. Aliás, este último é muito conhecido pelas artes que criou para o game Metal Gear Solid e pelo seu belíssimo portfólio sci-fi artístico erótico no Instagram. Então, espere maquinários e muitos robôs num traço rough/underground, com paleta de cores que variam do cobre ao amarelo, do bronze à ferrugem, com muitos contornos grossos e rabiscados de nanquim, o que combina muito com o caos de um enredo que se preocupa em entreter (bem) e divertir (bastante).

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ANÕES – Vol. 1 (2018)

Do mesmo modo que Elric: o trono de rubi, Anões, da licenciante Soleil, não só foi publicado através do selo Gold Edition, tendo, assim, o mesmo tratamento luxuoso, como também contém duas histórias em seu volume de estreia.
Na primeira trama, o jovem anão Redwin mostra ter sérios problemas com seu pai, um ferreiro que se nega a confeccionar armamentos, o que, consequentemente, o faz ser taxado como covarde entre seus semelhantes. Tal postura gera rancor em Redwin, assim como o leva a traçar um objetivo ambicioso: Tornar-se o maior guerreiro de sua ordem.
A história seguinte conta-nos sobre Ordo, um rapaz que, quando garoto, fora entregue a uma seita de assassinos para se tornar mais um de seus membros letais, porém, agora adulto, almeja vingar-se de seus líderes, em razão do caminho que lhe impuseram.
Através da narrativa de ambos os personagens, vemos que o universo de Anões é muito violento, ou, quem sabe, a violência seja consequência de sua natureza bruta. Quanto aos personagens, não sabemos, ainda, se as jornadas desses heróis se cruzarão, mas, do mesmo modo que em Elfos (quadrinho com dois volumes já lançados, também pela Mythos, no mesmo selo, mas que não podemos discorrer acerca dele, pois, faltou-nos, digamos… “di$$$ponibilidade de tempo”), há enorme potencial para expandir o mundo dos Anões (que é o mesmo de Elfos, pelo que ouvimos falar) de modo criar uma espécie de Terra Média, mas mais intensa e heavy metal, certamente.

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RAMTHAR (2017)

É uma pena que essas histórias tenham sido publicadas só agora! Acertadamente, há um texto introdutório que não apenas apresenta o personagem, mas que nos permite conhecer a longa jornada editorial desta obra concebida no final da década de 80 por Mozart Couto (sim, o mesmo de Sexdroide, Glory, Star Wars e que também ilustrou capas de A Espada Selvagem de Conan), Deodato Borges (dos primórdios da radionovela, criador das HQs de As Aventuras do Flama e 3000 anos depois) e de seu filho, o colosso Mike Deodato Jr. (de Mulher Maravilha, Elektra, O espetacular Homem-Aranha, Thor, Thunderbolts, Hulk, Velho Logan, Berserker Unbound, e muitos, muitos outros).
Ramthar tinha todo o potencial para brilhar naqueles tempos de outrora, quando os brucutus dominavam o cinema (como as franquias Rambo, Conan, O Exterminador do futuro, Comando para matar, Predador I, O vingador do futuro, filmes do Van Damme, etc.), pois, no quadrinho, impera aquele ambiente “Mad Max”, de decadência da sociedade num mundo pós-apocalíptico, com vilões formados por gangues cruéis e que serão combatidos por um protagonista nada pequeno e mirrado.
O roteiro simples privilegia a ação, reflexo da época em que foi concebido, no entanto, é tanto um prato cheio para o leitor da velha guarda (visto que, no compilado deste álbum, há histórias antigas, ricas daquele clima nostálgico das HQs de super-heróis e anti-heróis de antigamente), como também é um quadrinho que consegue fazer o leitor de agora se divertir e conhecer um tipo de aventura (e de escrita) muito escassa na linguagem dos gibis dos dias de hoje.

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DRAGONERO: O CAÇADOR DE DRAGÕES (2019)

Para começarmos de modo sincero, confesso: Eu julgo uma obra pela capa. Foi mal, pessoal (afirma Hugo, enquanto Leandro, mais acostumado a ler quadrinhos da Bonelli, gargalha irônico ao fundo).
A edição especial de lançamento de Dragonero, chamada também de “edição zero” (volumes de estreia com uma história fechada que, mais tarde, se tornam um quadrinho periódico), não havia me chamado a atenção a princípio, exatamente por causa da capa que remete aos quadrinhos que eram publicados nos anos 90, com suas misturas improváveis de cores (a paleta majoritária de cores da capa de Dragonero são preto, roxo, violeta, amarelo, bege e marrom, confira você mesmo na imagem…), com personagens anormalmente musculosos, de queixo e cabeças quadradas, rostos sempre com expressões raivosas, exageradamente equipados com armas grandes, capas e faixas, cintos e fitas em torno das pernas e braços, num esforço descomunal para o gibi se destacar nas bancas (e curiosamente, o vigor das histórias de grande parte desses quadrinhos era inversamente proporcional à saúde física de seus protagonistas nas capas ). PORÉM, ENTRETANTO, CONTUDO, TODAVIA, EU ESTAVA TOTALMENTE ERRADO!
Caso então você tenha gostado da capa de Dragonero, ignore essa primeira impressão. No miolo, o desenhista Giuseppe Matteoni fez um trabalho em preto e branco excepcional, com muitos detalhes de indumentária e maquinário (como armaduras, trajes de couro, engrenagens, alavancas e até um elevador), matas de flora heterogênea, meticulosamente desenhadas, rabiscos (bem feitos) para simular runas e inscrições de mapas, alternâncias de silhuetas ora inteiramente pretas e ora em linha clara, para ocultar ou evidenciar melhor os personagens, ou mesmo destaca-los ou os colocar em plano de fundo, etc. Fato é que a história ganha vida pela exímia combinação de seu traço e sua narrativa gráfica quando somada ao texto da aventura na qual se lança o Matador de Dragões. Um olhar atento à arte de um leitor que não devora com pressa um gibi, mas, ao contrário, o aprecia com calma, o contempla, o degusta irá fazê-lo notar o quanto os desenhos não devem nada para álbuns de luxo como Elric ou Anões. Inclusive descobrimos que as primeiras edições de Dragonero ganharam na Itália um formato de luxo em cores, anos depois de consolidada a série em preto e branco, tamanha é a qualidade (e, por consequência, as vendas) do quadrinho.
É com satisfação que eu reconheço que mordi minha língua (ou, melhor, tive meu preconceito com as capas bonellianas desmanchado), pois Dragonero se tornou um dos meus quadrinhos favoritos, e já corri para garantir as duas primeiras edições mensais, agora num papel que privilegiou ainda mais a arte (a edição zero saiu com o miolo em offwhite, um papel que, embora seu amarelado dê um requinte de velhice, de pergaminho, de imersão para narrativas de fantasia medieval, por outro lado, esse papel é um tanto áspero, tornando levemente irregular alguns dos traçados e do preto chapado, probleminha corrigido inteiramente nas edições mensais em offset, padrão das publicações da Bonelli pela Mythos por aqui)

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Grato por sua leitura até aqui. Um abraço!

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