Doc Holliday, Tombstone e Tex

Homens bigodudos e de chapéu brigando e dando tiros a torto e a direito, dentro de saloons ou em cenários desérticos estão na imaginação coletiva quando o assunto é western. Entretanto, um nome se sobressai frente aos outros, tanto pela figura mítica criada pelo mercado do entretenimento quanto pela pessoa real: Doc Holliday é um personagem ímpar na história do Velho Oeste.

Doc Holliday, o dentista encrenqueiro

Nascido John Henry Holliday (1851-1887) e formado como dentista (daí seu apelido Doc, de doctor), descobriu ter tuberculose ainda jovem. Como a doença atrapalhava sua carreira, decidiu se mudar para um clima seco e partiu rumo a oeste pois é, a medicina não era avançada como hoje.

Seu temperamento forte, muitas vezes intempestivo e sua queda por jogos de azar contribuíram para que sua reputação como criminoso crescesse. Segundo estudiosos, um dos fatores que contribuíram para essa mudança comportamental (de doutor para jogador de azar profissional) pode ter sido o próprio diagnóstico de tuberculose. Sem tratamento eficiente na época, ele considerava ter seus dias contados por causa da doença; e daí viria sua falta de preocupação consigo mesmo (noitadas de pôquer com muita bebida, uma rotina nada saudável) ou com os outros (brigas, tiroteios e assassinatos eram comuns na vida de Doc).

Apesar de sua fama como pistoleiro fora da lei, ele era considerado polido e culto por algumas pessoas fora do círculo vicioso de violência regadas a álcool. Parte disso pode ser provado ao vermos uma amizade inusitada surgir entre Doc e Wyatt Earp, xerife que também se tornou um nome lendário depois do incidente em Tombstone.

Se você acha que isso daria um bom filme, Hollywood tinha certeza…

Tombstone – A justiça está chegando

A efervescência do cinema western da década de 1960 parecia ter perdido força ao longo dos anos. Com roteiros cada vez mais elaborados e alto investimento de Hollywood em blockbusters de ação, aventura e comédia, aliados ao desenvolvimento tecnológico no mundo do entretenimento, tornava o cenário desértico do faroeste coisa do passado tanto para o mercado quanto para o público. Eis que o tema ressurge magistralmente em 1992 quando um velho conhecido daquelas bandas, Clint Eastwood, decide dirigir e atuar em Os imperdoáveis. Com Deus ao seu lado (estou falando de Morgan Freeman), a obra cinematográfica marcou a retomada do segmento às grandes telas.

Aproveitando a onda de boas produções, Tombstone – A justiça está chegando entrou em cartaz um ano depois, em 1993, com nomes de peso no elenco e estrelando Kurt Russel como Wyatt Earp e Val Kilmer como Doc Holliday. Por ser baseado em fatos e personagens reais, o filme retrata o lendário duelo no OK Curral entre os irmãos Earp aliados a Doc Holliday contra o bando dos Clanton. Houve baixas dos dois lados e, mesmo após o tiroteio, aconteceram algumas retaliações (ou verdadeiras vendettas) que marcaram para sempre a história de Tombstone, no Arizona.

A história continua em Tex

Por causa da tuberculose, Doc Holliday já não estava nos seus melhores dias, mesmo no duelo de OK Curral. Se no filme Tombstone – A justiça está chegando não sabemos ao certo o que ele fizera nesse curto período de vida após o embate, o autor italiano Mauro Boselli nos presenteia com a “continuação espiritual” de Tombstone em quadrinhos na edição Tex Gigante 34 – A vingança de Doc Holliday. Um verdadeiro exercício criativo que preenche uma lacuna na imaginação dos aficionados pelo tema.

Na aventura, Tex e Kit Carson são os rangers responsáveis pelas investigações de alguns assassinatos brutais cometidos com uso de ferramentas de dentista. Como as vítimas haviam participado do tiroteio em Tombstone contra os Earp, Doc Holliday acaba se tornando o principal suspeito.

Cenas memoráveis do filme são retratadas na HQ como forma de homenagem ao universo cinematográfico de faroeste e demonstra a harmonia com que o personagem histórico Doc Holliday se integra às aventuras de Tex Willer.

Laura Zuccheri, um destaque à parte

A arte em preto e branco da ilustradora italiana é primorosa pelos detalhes que transmitem realismo aos personagens e cenários, casando perfeitamente com a complexidade e o ar hollywoodiano da trama.

Além do título em questão (Tex Gigante 34 – A vingança de Doc Holliday) trazer à tona um protagonista conhecido da história americana e do entretenimento, a Sergio Bonelli Editore também faz história ao colocar Tex nas mãos de Laura Zuccheri. É a primeira vez que uma mulher ilustra uma HQ do ranger bonelliano. E não se trata de uma edição qualquer.

Apesar da editora Bonelli ter uma equipe de mulheres trabalhando ativamente em seus títulos, Laura Zuccheri conseguiu um feito inédito ao adentrar no mundo sexista do Velho Oeste, solo hostil e predominantemente machista. Por mais que soe contraditório para alguns leitores da velha guarda, Laura sempre tivera carinho especial por Tex e provou que mereceu estar no grupo seleto que produz a especialíssima edição anual Tex Gigante.

A recomendação final é de que você assista Tombstone – A justiça está chegando para entender o contexto e parta para a leitura da HQ Tex Gigante 34 – A vingança de Doc Holliday, prestando atenção nos textos editoriais que apresentam informações dos fatos históricos.

Fonte de pesquisa
Duelo no OK Curral:
https://m.folha.uol.com.br/mundo/2014/12/1558582-duelo-no-ok-curral-marcou-velho-oeste.shtml

Mais Tex >>> https://anemiacerebral.com.br/tag/tex/