Minha série favorita não é GoT, é Castle

Game of Thrones foi um acontecimento. A cada temporada, as pessoas inventavam suas teorias malucas, conversavam noite adentro sobre personagens e reclamavam de George R. R. Martin a cada morte inesperada. Teve um final controverso? Sim. Eu gostei? Como a maioria das séries, gostei no começo, me apaixonei no meio e fiquei dividido com o fim. Mas calma. Não quero falar de GoT aqui, deu para perceber no título, não?!

Antes de mais nada, eu tenho um sério problema com séries entre outras coisas: me falta paciência para acompanhar todos esses blá blá blás que a maioria dos roteiristas colocam nas histórias para preencher alguns episódios. Hoje, não acompanho quase nada: Stranger Things não apresentou nada de novo na segunda temporada, Westworld tem um ritmo lento, La casa de papel achei fraco… Ainda tenho a opção de assistir séries que já chegaram ao seu fim como Breaking Bad, Lost, Hannibal, 2 and a half man, ou clássicos como Um maluco no pedaço, Friends, Todo mundo odeia o Cris, Eu, a patroa e as crianças ou Sai de baixo (ok, talvez eu tenha ido um pouco longe demais). O que quero dizer é que o problema sou eu. Gosto de boas tramas, acho Westworld caprichado apesar do ritmo lento inicial; gosto de comédia, mas senti muita vergonha alheia e desisti de assistir The Office; aprecio personagens cativantes, mas Friends nunca foi do meu paladar. Ok, assisto À prova de tudo (não, eu não beberia cocô de elefante para sobreviver), mas não é bem sobre esse tipo de série que estamos falando, certo?

Eis que vejo um post do Guilherme Briggs falando sobre um tal de Rick Castle, que ele adorava dublar por ser extremamente divertido assim como o ator que o interpreta, Nathan Fillion. Resolvi ir atrás dessa desconhecida série que estava começando sua quinta temporada na época em que comecei a assistir e essa acabou se tornando minha série favorita e não conseguiu ser destronada desse posto mesmo com tantas opções nos streamings da vida.

Não sei muito bem como definir Castle porque se trata de uma série que mistura drama policial com comédia character-driven (ou seja, focada na relação e desenvolvimento de seus personagens). As tramas são bem-feitas, claro, mas a interação entre as pessoas em volta do protagonista, que dá nome à série, foi o que me cativou. Logo no episódio piloto, somos apresentados a uma dupla formada pelo escritor best-seller de romances policias (e um bon vivant de primeira) Richard Castle e pela obstinada detetive de homicídios Kate Beckett, que se unem para desvendar alguns assassinatos que parecem ter sido inspirados nas obras ficcionais escritas por Castle.

Fica óbvio que o flerte entre os dois será o fio condutor da série, porém, os personagens secundários são essenciais para o desenvolvimento da narrativa. A dupla de detetives Javier Esposito e Kevin Ryan formam um bromance que vai além do alívio cômico; a médica legista Lanie Perrish é vital para as investigações, além de ser amiga de Beckett; Perlmutter, ao contrário de Lanie, é o médico sarcástico, muitas vezes ranzinza, porém, extremamente engraçado para quem assiste e, por fim, o capitão Roy Montgomery é a imagem do chefe carismático que é sério quando se trata de justiça e, ao mesmo tempo, solidário com seus subordinados.

Se estamos bem servidos de personagens na delegacia, temos que destacar a família de ruivas do Castle: sua mãe, Martha Rodgers, e sua filha, Alexis – vale citar a mãe dela também, Judith. Sim, Richard Castle é pai solteiro e isso é um ponto de vista diferente para se abordar porque ele é um homem de meia-idade rico, mulherengo, inconsequente, imaturo e, ao mesmo tempo, um pai extremamente zeloso e orgulhoso por sua filha adolescente “cdf”.

O subtexto é o recurso que permeia toda a série e ajuda o “pai” Richard Castle a entender sua própria relação com a família e também guia o “detetive” Richard Castle a ligar os pontos para o desfecho das investigações de homicídio junto com Beckett. Detetive… mas ele não era escritor? Sim, na verdade ele se tornou as duas coisas, porque logo depois de auxiliar a polícia no primeiro caso, Castle utiliza sua amizade com o prefeito de New York para conseguir aval para acompanhar Beckett em suas investigações com intuito de usá-la como musa inspiradora para seu próximo romance. A partir daí, ele se torna um membro não-oficial da delegacia.

“Ué, isso me parece só uma série que vai formar um casal”, você pode dizer. “E é”, vou te responder. Aliás, é isso… mas de uma forma divertida (e despretensiosa, de certa maneira), mas inteligente, com camadas e personagens cativantes. Há várias referências ao mundo do cinema e da televisão – por exemplo, em um dos episódios, a atriz de teatro Martha Rodgers, mãe do Castle, e interpretada por Susan Sullivan, é pega pelo filho assistindo um seriado antigo no qual ela atuara. O seriado era O incrível Hulk (da década de 70) e a atriz em questão era a própria Susan Sullivan. Por esse e outros vários motivos, vejo essa série como uma pequena homenagem à cultura pop, com referências a Batman, Buffy, Arquivo X, filmes de espionagem, livros, lendas, além de abordar temas e acontecimentos sérios como terrorismo, guerra, intrigas políticas, corporações, privacidade dos cidadãos etc… Não pretendo me estender quanto às histórias dos episódios porque apesar do tema policial, Castle está muito longe de ser comparável à seriedade e complexidade de CSI, por exemplo. Para você não se frustrar, repito que o grande trunfo são seus personagens e, ao longo das oito temporadas, acompanhamos a evolução deles.

Assisti Castle algumas vezes porque era interessante acompanhar o sentimento de cumplicidade entre Richard e Kate crescer a cada episódio e ver como isso implicava em suas escolhas pessoais. Essa série não tem dragões nem famílias brigando pelos sete reinos, mas tem personagens sinceros e humanos que buscam um porto seguro para suas fragilidades.

Recomendo que assistam e tentem prestar atenção nas sutilezas das falas, nas expressões faciais e corporais dos personagens e em como isso afeta nas suas relações interpessoais, porque foi isso que me encantou.

2 thoughts on “Minha série favorita não é GoT, é Castle”

  1. Depois de tanto tempo, ainda vejo que tem gente que fala sobre minha seriezinha, faço das suas palavras as minhas, Castle é aquela minha série reconfortante, meu escape, e que vai ficar sempre marcada, com certeza, os melhores personagens, e o melhor casal! Sempre! Obrigada por esses post. ❤

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *