Precisamos falar sobre Inked

No país em que a cultura foi há muito rebaixada e o capital que sustenta os campeonatos depende intensamente da capa dura, da lombada-mosaico e do novo queridinho da histeria nerd e a atual solução para o cumprimento das metas de pré-venda, o bookplate, não é de se surpreender que as torcidas mais barulhentas julgassem os novos jogadores pela cara e não por seus méritos, por seus alcances e limites ou, principalmente, por sua função em campo. Assim, já que num cenário desse tipo, o torcedor apaixonado possa não conseguir notabilizar que, na pior das hipóteses, novas contratações visam fortalecer o time e não piorá-lo e que, nas melhores, um novo jogador possa ser uma revelação e até mesmo um trunfo em momentos de crise em campo, uma dose de ferro (e calma) se faz necessária para auxiliar as funcionalidades do lado esquerdo do córtex pré-frontal diante da estreia de Inked: A arte ganha vida.

Comecemos, pois, pela obra impressa que chega a nós em formato americano, tal como qualquer HQ de super-herói Marvel ou DC, em capa cartão (o que não só facilita o manuseio durante a leitura, mas também coopera para a acessibilidade do título), com miolo em couchê (cuja gramatura das páginas se mostra suficiente para que a arte não vaze de um lado para o outro) e, por fim, a preço de capa de R$ 24,90, o que está na média dos encadernados de formato similar publicados por outras editoras.

Junior é o protagonista baseado nas feições de Neymar Jr.

Ainda neste primeiro contato, nota-se de pronto, ao folhear, a falta de numeração das páginas, lapso costumeiro em praticamente todas as editoras de quadrinhos do país hoje, o que vem se tornando um obstáculo para procurar páginas específicas, marcar com mais facilidade um ponto quando, por algum motivo, interrompemos brevemente a leitura, assim como também atravanca o processo de análise de determinadas passagens da obra, exercício frequente entre nós, resenhistas, jornalistas, influencers, críticos e estudiosos da nona arte. Contudo, para leitura corriqueira, que é a intenção primária desta HQ, a falta de numeração não incorre em maiores contratempos. Contudo, antes de passarmos para a análise do conteúdo, outro pormenor é o fato de haver no impresso tanto o logotipo da editora Mythos quanto da Fan the Flame. Isso se deve em razão de a iniciativa para publicar Inked ser da Fan the Flame Comics, uma nova produtora que possui estúdio para mídias tais como e-comics, jogos de celulares e curtas em animação (entre suas publicações há HQs de Kung Fu Panda, Sesame Street, Piratas do Caribe, Shrek e outras) e que parece querer adentrar em nosso mercado, mas que, neste primeiro momento, optou por contratar a Mythos Editora como sua publisher para este trabalho. Esta informação é importante, pois quando o título fora anunciado há poucas semanas nas redes sociais, seu lançamento causou revolta em alguns leitores e fãs de quadrinhos que ficaram indignados diante de uma HQ trazendo a imagem de Neymar Jr. como super-herói. Entre os argumentos desse público, havia o de que o gibi era “dispensável”, que “havia muitos outros quadrinhos mais importantes para trazer para o Brasil” ou mesmo o fato de que a editora “deixa de lançar o quadrinho X para lançar gibi do Neymar”. Os dois primeiros manifestos são frequentes nas redes sociais perante qualquer anúncio feito, é verdade, mas na terceira fala acima, entendemos que a razão é um tanto mais específica: preconceito diante da imagem do herói. Entretanto, falemos disso mais adiante. Por ora, basta lembrarmos que a recepção de Inked ocorre em meio à zombaria e desaprovação de parte da comunidade geek leitora. Ainda assim, quando procuramos a Mythos sobre o assunto, nos foi explicado que não houve um investimento por parte dela; a editora não licenciou Inked (tampouco o título ocupa o espaço de outra publicação em seu catálogo), ela apenas foi contratada para executar o que ela faz desde sempre: editorar e publicar gibis. E foi o que ela fez para a Fan the Flame, que, por motivos legais, não poderia ela mesma publicar em nosso mercado diretamente.

Esclarecido isso, passamos então para a razão fundamental deste texto: Inked: a arte ganha vida é um quadrinho censurável ou não? Não. E, adiante, explicamos os porquês:

Mensagem inicial

Logo ao abrirmos o encadernado (que compila as quatro primeiras edições e, ao final, traz uma história curta extra, Inked: o leão e a menina), nos deparamos com uma introdução assinada pelo próprio Neymar Jr., que se dirige aos seus fãs e leitores, compartilhando seu gosto por tatuagens e super-heróis. O texto surpreende por sua carga notável de sensibilidade (a ponto de sentirmos inveja de quem é fã do jogador, pois, se Alan Moore ou Frank Miller, se Tsutomu Nihei ou Kazuo Koike, se Gianfranco Manfredi ou Giancarlo Berardi ou se Marcelo D’Salete ou Sam Hart nos brindassem com um prefácio assim, não temos dúvidas que nossos olhos marejariam), tamanha a simplicidade (e até humildade) dele ao nos agradecer pela compra, torcer para que o leitor se divirta com o quadrinho e discorrer brevemente acerca de seu sonho em ser jogador de futebol e super-herói, fato que parece se sustentar em razão do extra a seguir: duas páginas dedicadas a fotos reais das tatuagens de Neymar Jr., pelas quais vemos que suas costas são cobertas por ninguém menos que Batman e Homem-Aranha.

Homem-Aranha e Batman tatuados nas costas

Com isso, após uma introdução acertada e que inclusive abre espaço pedindo o manifesto dos leitores com opiniões, ideias, palpites, etc. (será bom se isso não for uma formalidade, mas, de fato, um interesse real dos produtores e de Neymar Jr. quanto às impressões do público), dificilmente alguém que não seja refém de seus próprios preconceitos ficaria incomodado e faria um julgamento negativo sobre uma narrativa de super-heróis só porque o protagonista possui a imagem de um jogador de futebol.

A ilustração lembra a Ladeira Porto Geral, no centro de São Paulo
Contexto histórico da tatuagem presente na obra

Ao iniciarmos a leitura, ainda que o primeiro quadro já divirta os paulistanos pela semelhança cenográfica com a Ladeira Porto Geral no centro de São Paulo, é a seguir que a HQ alcança relevância educacional, não só por afirmar que as tatuagens são parte da cultura moderna, mas por apontar que diferentes povos em diferentes épocas praticavam as tatuagens para além de fins estéticos: há no gibi exemplos de usos terapêuticos no Egito antigo, tatuagem para identificação de criminosos na China da Dinastia Qin e até mesmo de identidade tribal e hereditariedade entre o povo Maori na Nova Zelândia. Ainda que não haja aprofundamento no assunto, a informação antropológica levantada não só é interessante e educativa, mas também de muita relevância, pois desconstrói parte do senso comum diante da body art. Um professor em sala de aula poderia aproveitar estas páginas, o impacto que chamaria a atenção dos alunos ao reconhecerem uma figura futebolística como super-herói e a didática proporcionada pela linguagem dos quadrinhos como material alternativo (e provavelmente mais efetivo do que os comuns slides e fotos de livros didáticos) para discutir sociedades modernas e seus problemas quanto a preconceito, liberdade do corpo e apreciação artística, até mesmo restringir o debate para exemplos locais que interessariam grupos menores de alunos, como os otakus e a questão das casas de banho coletivo japonesas que proíbem veementemente a entrada de pessoas tatuadas, ou mesmo ampliar o debate para um nível de interesse nacional entre  os jovens vestibulandos, como o problema enfrentado por profissões em áreas como a saúde ou o meio corporativo que ainda enfrentam muita resistência em determinados locais diante de quaisquer “desvios” dos padrões de aparência, sobretudo vestuário e tatuagens expostas.

Alguns erros de revisão, mas é normal por ser a primeira edição

Pois é, o gibi que sofreu preconceito pelo uso da imagem do jogador de futebol ironicamente desconstrói certos preconceitos de aparência em suas duas primeiras páginas. Contudo, ainda no que diz respeito ao texto, nem tudo são flores, pois figuram um ou outro erro de revisão; mas bem longe do que ocorrera entre 2018 e 2019 (e que continua ocorrendo sem grandes melhorias) em muitas publicações de diversas editoras. Aqui escapou um ou outro acento e erro de digitação. Nada que prejudique a leitura, mas que pode ser melhorado no próximo volume. Da mesma maneira, passagens como “não tem como andar um quarteirão sem passar por alguém que tenha alguma tattoo” ou “tá vendo? Cartão. Esse lugar aqui, onde, pelo jeito, mora um cachorro grandinho…” soam artificiais e truncadas. Uma simples adaptação do texto para algo como “não dá pra andar um quarteirão sem cruzar com alguém tatuado” e “tá vendo esse cartão? Pelo jeito ele é de um lugar onde mora um cachorro bem grandinho…” as tornariam mais fluidas e próximas do jeito como falamos no dia a dia. Já fica então a dica do Anemia Cerebral para todas as editoras do país: procurem contratar tradutores e revisores com bons conhecimentos de Linguística, pois não basta saber língua estrangeira e gramática portuguesa apenas. Deve-se saber pensar a língua em seu uso na boca dos falantes, e é esta ciência que nos mostrará o rico universo das falas.

A tradução poderia ser mais fluída

Por outro lado e ainda sobre a linguagem, os balões de texto são intuitivos, pois se posicionam próximos de quem fala e se sobrepõem uns aos outros, deixando bem evidente as fases da conversa. O leitor mais experiente poderá se incomodar com seus longos “rabinhos” que se esticam em determinados instantes, porém nenhum deles prejudica a arte. Ademais, já deve ter ficado óbvio que Inked não tem como público primário o leitor calejado, que carrega décadas de experiência com a linguagem dos quadrinhos, que transita sem qualquer problema entre HQs, mangás, BDs, fumetti, etc., mas, sim, um público talvez órfão de um gibi “intermediário”, cuja linguagem seja acessível e intuitiva, tal como Turma da Mônica e Disney, mas que seja ao mesmo tempo isento dos aspectos juvenis dessas franquias. Um quadrinho de heroísmo e com os elementos fantásticos de Homem-Aranha, X-Men, Batman, Teen Titans Go, Naruto e Dragon Ball, mas que não intimidasse seu leitor com as peripécias cronológicas de muitos desses heróis, nem os obrigasse a arcar com as despesas de spin offs, universos expandidos, universos alternativos e sequências que se avolumam ano após ano, obrigando seus fãs a decorar listas de nomes, poderes, fatos passados, dramas pessoais, etc.

Exemplo de balões de fala com “rabinhos”, note a palavra “medico” sem acento

A Fan the Flame mira um público que, ao menos para nós não era tão evidente, mas que de fato existe e talvez seja abundante. Um leitor potencial que lidaria de bom grado com uma linguagem e com um desenvolvimento narrativo mais próximo dos filmes hollywoodianos de super-heróis, como, por exemplo, os do Homem-Aranha ou os do Homem de Ferro, ou praticamente qualquer outro da Marvel que seguem à exaustão a fórmula: apresentar o protagonista, enfiá-lo (ou os seus parentes) numa enrascada, faze-lo descobrir meios para sair dela através de superpoderes recém-adquiridos, notar que pode também usá-los para ajudar outras pessoas, que o problema inicial faz parte de uma trama maior de um vilão e, por fim, se preparar para o confronto final contra seu rival mais poderoso até então). Esse novo leitor gosta de muitas narrativas de ação e de aventura em filmes, desenhos, séries e games e estas são suas referências de narrativa super-heroica, e não uma HQ de número aleatório com uma miscelânea de personagens. Ele não está disposto a “sofrer” para ler gibi. Ele está disposto a ler para se divertir (algo que nós, mais velhos ou, melhor, mais calejados de décadas enfrentando o maremoto que são as qualidades das séries em quadrinho e as constantes incertezas do mercado das HQs nos fez tão diferentes hoje de quem éramos quando seguramos o primeiro Homem-Aranha ou Dragon Ball em mãos).

Quanto ao roteiro da obra, alertamos que se dispor a desenvolver uma fórmula mais descompromissada de narrativa, tal qual a que descrevemos acima, não significa poder incorrer em erros lógicos de roteiro, o que parece acontecer quando, ainda no início, o protagonista Junior, após ter sido ferido e ter sua irmã sequestrada, espera três semanas depois de sua alta hospitalar para ir ao endereço do cartão que lhe foi dado com a promessa de encontrar ali meios para ajudar sua irmã: “se você quiser resgatar sua irmã, me procure […]. Quer dizer, é improvável que alguém esperasse tanto tempo com um parente desaparecido até se sentir atentado a ir num endereço estranho que promete ajudar. A própria narrativa deveria mostrar que ele tentou antes outros recursos que se mostrassem infrutíferos (a polícia, talvez?).

Outra possibilidade seria alterar o texto da temporalidade narrativa para “logo após” ao invés de “três semanas depois”, contudo, é neste instante também que temos outro ponto alto do quadrinho novamente: Junior, depois de ser tatuado contra a sua vontade, descobre que pode dar vida ao recente desenho do leão em sua mão e que este obedecerá aos seus comandos, se for devidamente treinado, cuidado e respeitado. Com isso, seus treinamentos como super-herói e adestrador se iniciam (e se concluem!) em duas páginas cuja dinâmica lembra Dr. Slump, não pela comicidade (que também ocorre aqui, porém mais contida), mas, sobretudo, pelo uso do recurso “caldeirão efervescente de piada quadro a quadro”. Ora, um dos fatores de maior sucesso do mestre Toriyama no início de sua carreira na famosa Weekly Shonen Jump fora justamente aproveitar o seu curto espaço de páginas nela para fazer com que cada quadro ou grupo de quadros (tal como as tiras de Mafalda ou de Chiclete com Banana) funcionassem como uma sequência de piadas (como ocorre hoje também nos diálogos entre personagens em cena nas sitcons americanas, a exemplo de Big Bang Theory, Friends, Two and a half men, ou mesmo no cinema, tal como alguns instantes de piadas “toma lá, dá cá” entre heróis da Marvel). Assim, durante esse amontoado súbito de piadinhas, o treinamento de Junior e de seu leão Baysan não só suscita o riso pelo riso, mas também nos mostra, por meia das trapalhadas, os poderes e fraquezas de nosso herói como poder dar vida às próprias tatuagens, mas, quando os animais vindos delas são feridos, o próprio desenho se borra na pele, prejudicando seus poderes até que retoque a arte novamente com a tinta especial. O conceito deste superpoder é bom, pois, se por um lado temos muitas possibilidades de criações, quase como uma mistura de Pokémon com Lanterna Verde, por outro, a própria limitação de espaço no corpo do herói e sua dependência da supertinta e de um tatuador o limita bastante.

Outro recurso narrativo que podemos destacar jaz na impulsividade e arrogância de Junior. Ele frequentemente retruca, é respondão e até mesmo tolo por indagar a respeito de coisas que estão na cara dele, mas, para nós, isso não é só uma faceta de construção de caráter de personagem; não em Inked, pois aqui o autor faz disso um modo para explicar o enredo pela voz dos interlocutores do protagonista. Quando Junior retruca seu mestre Tácito, obriga este a responder, situando nós, leitores, a respeito do que está acontecendo e o que deve ser feito na história. Esse recurso permite que o autor não dependa das caixas de texto com um narrador externo (uma voz como a de Deus, que tudo sabe sobre os eventos e sobre o que vivenciam os personagens) nem de narrativa em primeira pessoa (como ocorre comumente em Homem Aranha, Demolidor, Jessica Jones, etc.). Porém, que fique claro que não há narrador melhor que outro. Cada um desses são recursos para se contar histórias. Cada leitor e autor terão suas predileções, mas cabe a nós percebermos seus usos e ganhos em cada momento da história. Em Inked o recurso funcionou muito bem.

Veja nosso vídeo sobre o assunto

A ação ocupa boa parte do encadernado, com destaque para o término do segundo capítulo (edição), quando o Junior, guiado por seu mestre Tácito, faz a primeira invasão ao cartel que raptara a sua irmã, mas falha na missão em razão de sua impulsividade. Para os leitores da Marvel, é possível notar alguma semelhança com o Homem-Aranha no começo de sua carreira, quando descobre seus poderes e sente-se tão poderoso que acaba acreditando que é mais forte do que realmente é. O típico arquétipo de herói impulsivo, que não ouve a voz do bom senso e da prudência e que, por isso, acaba se metendo em confusão, mas que funciona bem aqui: Junior invade uma instalação sem saber sobre os recursos de seu inimigo, supondo que tenham armas comuns e homens comuns. Ele obtém êxito a princípio, porém é latente a sensação de que incursão não acabará bem. O acerto aqui ocorre por justamente termos apenas a perspectiva do personagem e por ser um quadrinho novo, sem podermos esperar que tipo de desafio há por vir. E é assim que o encadernado se encerra. Com sua missão ainda incompleta, embora tenham surgido nos personagens, e um vilão do qual sabemos pouco, mas que já se mostrou ser uma ameaça real (novamente diferente dos filmes da Marvel cujos antagonistas, com exceção de Ronan e Thanos, se revelavam mais fracos do que os super-heróis).

Por fim, sobre a questão da aparência do personagem, é evidente que as feições de Junior são as do jogador Neymar Jr. Sobre isso, esperamos que você, ao ter chegado até aqui, tenha percebido o quão superficial (para não dizer errôneo) é julgar uma HQ (ou qualquer coisa) sem um exame mais aprofundado, pois, como vimos (e espero mesmo que tenham visto…), ainda que não se interesse por aquilo que você tenha julgado preconceituosamente precipitadamente, é muito provável que este algo (alguém também) possua diversas qualidades e funções que inclusive (direta ou indiretamente) beneficiem você. Em outras palavras (e mais claro do que isso é, para nós, impossível), que Neymar Jr. traga para o mundo dos quadrinhos seu público e, assim, ajude nosso mercado mirrado (e em perpétua crise). Mas, caso você pertença a um dos grupos de brasileiros que insistem em negar argumentos óbvios, reconheça ao menos que um gibi com Neymar Jr. como super-herói e a estranheza que isso possa gerar no começo é, também, fator que desperta a curiosidade de folhear o quadrinho. Contudo, ao fazê-lo, irá se deparar com uma introdução emotiva, informações culturais sobre tatuagens, diálogos ágeis e muita ação e aventura. Será mesmo que vai largar o gibi? Será mesmo que não o dará para alguém que gosta de futebol e de super-heróis, mas que não lê muito ou não conhece a HQ? Bem, como diria o Capitão Planeta, também um super-herói, “o poder é de vocês”.

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