Tina – Respeito, uma edição corajosa

No momento em que foi anunciado, Tina – Respeito foi alvo de reclamações por uma parte minoritária de leitores – aqueles de pensamento raso que não conseguem discernir problemas sociais relevantes de seus egos frágeis. Se essas pessoas se sentiram incomodadas de alguma forma antes mesmo do lançamento da obra, Mauricio de Sousa e sua equipe então foram muito corajosos e trouxeram um assunto que atinge principalmente os hipócritas: Respeito.

Nesta edição do selo Graphic MSP, a autora e ilustradora Fefê Torquato demonstrou maturidade e inteligência ao abordar de maneira clara o quão difícil e inseguro é a vida das mulheres no dia a dia: logo nas primeiras páginas, nos deparamos com uma jovem Tina deprimida, sozinha em seu pequeno apartamento. Aquelas cenas iniciais expõem o quanto esses problemas exteriores a afetam.

Para entender o porquê da angústia da personagem, somos levados a um flashback, “quatro meses antes…”, quando Tina era a foca da redação de um jornal e, por ser uma jornalista iniciante, ela tem que trabalhar duro. Com o tempo, Tina vai se enturmando com seus novos colegas; muitos são simpáticos, já outros apresentam facetas não muito agradáveis, tais como não respeitar a vez de fala de Tina (Imagem 2) ou mesmo aqueles que fazem comentários desnecessários para inferiorizar outra pessoa (Imagem 3)… Ora, quem nunca conviveu com algum tipinho desses no trabalho?!

Além desses, também nos deparamos com um tipo covarde: o assediador. Sim, o quadrinho trata do assédio que a protagonista sofrera no trabalho. É difícil descrever como a autora conseguiu transpor com êxito este tema tão delicado de uma forma compreensível para o público da Graphic MSP, mas ainda respeitando as restrições de conteúdo e de uso de personagens criadas por Mauricio de Sousa, ou seja, a HQ toca em conteúdo adulto sem que seja, deveras, um quadrinho adulto.

Para o desenrolar da narrativa, é importante compreendermos que Tina, apesar de morar sozinha, nunca está só, pois pode contar com os amigos e com a família – ao ler a obra, note que ela sempre está conversando com alguém por meio de mensagens ou se encontrando com as pessoas próximas. E essa naturalidade na relação familiar é vital para Tina tomar decisões importantes para o desfecho da história.

Um aspecto que deve ser considerado é que, pelo foco ser o assédio contra as mulheres, apenas os personagens masculinos agem negativamente na história. Ao meu ver, o quesito respeito é muito abrangente e pode ser melhor explorado nas possíveis continuações de histórias da personagem. Nesta edição, por exemplo, Pipa (ver Imagem 5) tem ciúmes – ainda que sutilmente – em relação a uma colega de trabalho de Tina, demonstrando certa antipatia (além do pré-julgamento) sobre alguém que ela nem ao menos conhece pessoalmente; e se, em alguma próxima edição, esse sentimento se tornasse um problema na amizade das duas? De fato, seria enriquecedor abordar diferentes tipos de problemas (ciúmes, insegurança, fofoca, preconceito…) que fazem parte da amplitude do tema e que afetam as relações humanas.

Tina – Respeito é um título que veio no momento adequado em que a sociedade tem dificuldade de discernir algo que deveria ser óbvio nas interações sociais: o certo e o errado.

Esta resenha faz parte do conteúdo especial para o mês das mulheres.
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